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Me formei. E agora?

Como a parcela da população recém-chegada ao mercado lida com as expectativas para a carreira e decide entre o seguro e o promissor

Ter um diploma universitário não garante mais o sucesso profissional de um jovem. Empresas têm buscado currículos com diferenciais e experiência de trabalho. Segundo dados do IBGE de 2017 um em cada cinco jovens brasileiros entre 15 e 29 anos não está estudando nem trabalhando, ou seja, passar meses à procura do primeiro emprego é uma realidade recorrente na vida dos jovens.

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 Além disso, as formas de procurar trabalho também estão mudando. Antigamente, uma vida dedicada a uma empresa era algo comum no mercado de trabalho. Os jovens se formavam e procuravam um emprego onde pudessem ter um futuro e crescer dentro de uma mesma instituição.


Pesquisas realizadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que os jovens atualmente procuram empregos a curto prazo passando por várias empresas durante a vida e, muitas vezes, saindo de uma grande empresa para começar um negócio próprio.

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Professor de administração e especialista em gestão empreendedora, Paulo Porto Martins diz que “atualmente vivemos na era da valorização da competência, do conseguir realizar e entregar resultados. Em algumas profissões ter um diploma superior já não gera o impacto na empregabilidade que gerava a 10 anos atrás”. 

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Por conta disso, segundo ele,não faz sentido fazer um ensino superior somente pelo “papel diploma” mas sim pela somatórias de competências que o estudante adquire ao cursar determinados cursos.

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Com as tecnologias modificando o mercado de trabalho, a forma de trabalhar  e de procurar empregos e por isso a ONU Brasil criou metas de melhorar a educação principalmente promovendo capacidade empresarial em uma tentativa de diminuir o número de jovens desempregados até 2030. Entre os jovens desempregados esta Luiza Weigert, curitibana de 21 anos, se formou no final de 2017 em design de interiores e desde então vem tentando conseguir espaço no mercado de trabalho:
 

A história de uma jovem formada em busca do primeiro emprego - por Yasmin Graeml
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Além da busca de um lugar no mercado de trabalho, a indecisão na escolha da carreira profissional também é um problema presente na vida de muitos jovens, que acabam se formando em determinada área mas que não se realizam profissionalmente. Isso é resultado de uma pressão causada pela sociedade, em que o jovem precisa concluir o ensino médio e já entrar na faculdade. O que pesa nesse momento é a falta de maturidade para decidir sua carreira profissional. É o caso da jovem Beatriz, que se formou em psicologia mas que decidiu mudar de área por não se sentir valorizada.

Beatriz, a jovem que se formou em psicologia mas acabou mudando de área -
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Segundo o especialista em gestão empresarial Alex Weymer, é possível o jovem planejar uma carreira profissional estável. “Existem técnicas para planejamento de carreira que podem contribuir com isso. O passo inicial, de acordo com Weymer, é ”identificar áreas que goste de atuar e traçar objetivos de médio/longo prazo em cima disso”. , Ele também afirma que “muitos jovens têm pressa e acabam pulando etapas e desistindo quando passam por provações que, inevitavelmente, a vida vai impor”.

Alerta Mundial

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O problema da falta de emprego para jovens não está apenas no Brasil. Em 2012, durante a 101° Sessão da Conferência Internacional do Trabalho, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) fez um alerta sobre  a falta de preparo dos jovens para o mercado afirmando que poderíamos perder uma geração inteira se os jovens não estivessem preparados e qualificados para as novas demandas tecnológicas do trabalho.

 

Entre as preocupações da OIT estão como a tecnologia vai impactar o mercado já que isso tende a acontecer de forma irregular ao redor do mundo, dependendo do nível socioeconômico de cada país. E os dados que mostram que a expectativa é que dobrem o número de jovens entre 2017 e 2030 no mundo de forma também irregular, concentrando 77% destes jovens na Ásia e na África, aumentando ainda mais a concorrência por vagas de emprego.

Jovens são os que mais empreendem

Daniela Santos se formou em comércio exterior aos 21 anos. Como já trabalhava na área, considerou que esse fosse o melhor caminho. Menos de um ano depois, ela percebeu que, além de ganhar pouco, não era feliz em seu emprego.

 

Na mesma época, Daniela costumava de fazer suas sobrancelhas de 15 em 15 dias. Como adorava a atividade, passou a realizá-la toda semana, se interessando cada vez mais pela área. Foi por conta de uma sugestão de uma amiga que ela começou a pensar em trabalhar exclusivamente com isso.

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A partir daí,começou a fazer contas de quanto poderia ganhar e resolveu arriscar. Achou uma amiga para dividir uma sala, e foi em busca de cursos. Em um mês e dez dias, tinha concluído suas aulas, comprado equipamentos, montado a sala e estava com seu negócio aberto. Foram cerca de R$2.500,00 de investimento inicial, além dos R$ 49,00 mensais destinados ao pagamento da Microempresa individual (MEI) a forma menos burocrática para conseguir seu CNPJ.

 

Segundo a Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2017, do Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a cada 100 pessoas na faixa etária de Daniela, de 18 a 24 anos, 20 são empreendedores iniciais.

 

Com dois anos de história, o espaço Dani sobrancelhas não para de crescer. Já aos nove meses, seus lucros chegavam aos R$ 6mil por mês. Daniela conta que viu no empreendedorismo uma maneira de ser feliz, ganhar dinheiro e melhorar sua qualidade de vida. A designer afirma que é muito feliz e que pretende continuar empreendendo.

 

Ela também faz parte dos 41,4%  de jovens entre 19 e 39 anos iniciaram suas empresas pela identificação da oportunidade de negócio, índice apontado pela pesquisa Perfil do Jovem Empreendedor 2016, da Confederação Nacional de Jovens Empresários (Conaje)  Outros 29,6% dos jovens empreendedores colocam a independência como principal fator de motivação.

 

A gestão financeira é identificada como o maior desafio para os jovens empreendedores (30% deles), ainda de acordo com estudo da Conaje. Em seguida, a gestão de pessoas (25%) e o planejamento (27%) são apontados como os maiores obstáculos no dia a dia do negócio. A minoria (12%) considera o marketing como a principal dificuldade.

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O professor de empreendedorismo Rodrigo Alvarenga fala sobre o crescimento do empreendedorismo acentuado, principalmente, nos últimos três anos no Brasil se deve em “grande medida à intensa cobertura dos assuntos startups, inovação e empreendedorismo, pela mídia mainstream”.

 

Isso também se reflete, conforme o especialista, no envolvimento de empresas e universidades a programas voltados ao desenvolvimento do viés empreendedor em jovens, processo que, apesar de crescente, ainda possui defeitos, explica Alvarenga: “Muito do que é feito tem baixa qualidade e efetividade, visto que as universidades, em muitos casos, têm tentado fazer isso sozinhas ou com apoios menos experientes e/ou mais ‘baratos’. Isso acontece devido a nossa cultura de atuação fechada e pouco colaborativa, bem como muitas vezes desconectada do mercado, sem falar na questão do investimento necessário para realizar esse tipo de movimento”.

 

Como passo inicial ao empreendedorismo, o professor indica experimentar, ter contato com quem já está empreendendo, trabalhar numa empresa startup ou participar de eventos práticos no tema, como a Startup Weekend, Hackathons e programas das próprias universidades. Dessa forma, o jovem desmistifica o tema, conhece e se prepara para aproveitar as oportunidades.

Jovens vêem no trabalho informal saída para o desemprego

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Nos últimos anos a economia brasileira vem sofrendo por grandes mudanças desde o início dessa crise financeira que ainda assola o país. O último avanço no Produto Interno Bruto (PIB), no Brasil aconteceu em 2010, o maior já registrado em 20 anos, quando a economia aumentou em 7,5% e segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2016 a segunda maior retração da economia registrada chegou em 3,6%.

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Diante todo esse cenário difícil que a população vem passando, a maioria vai tentando arrumar alguns jeitos para conseguir ter novamente um pouco mais de estabilidade financeira, e uma saída que vem sendo muito aproveitada por vários jovens é seguir o caminho do trabalho informal.

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Em abril de 2018 o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e o Ministério do Trabalho lançaram o boletim “Mercado de Trabalho: conjuntura e análise” (BMT). Utilizando dados do PNAD Contínua, o boletim faz uma análise do aumento de desemprego entre os jovens. No primeiro trimestre de 2016, 41,8% dos jovens ocupados estavam no trabalho informal. Já em 2017, esse número cresceu 3%, indo para 44,8% no mesmo período.

 

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a informalidade atinge 77% dos jovens no mundo todo. A estudante de administração Helena Zem, 20 anos, faz parte desse grupo desde o início de 2018. Ela conta que optou por esse caminho pois estava difícil voltar para o mercado de trabalho quando regressou de um intercâmbio acadêmico. “Depois que eu voltei, fiquei tentando arranjar um emprego por seis meses e não deu certo. Então em janeiro desse ano eu resolvi fazer um curso de quick design para trabalhar de forma autônoma”.

 

Como frequenta faculdade particular, Helena encontrou na informalidade uma forma de não depender exclusivamente de seus pais. O motivo levou a estudante a escolher o mercado da confeitaria foi a paixão que ela sempre teve por cozinhar e por doces. Helena não faz muita propaganda de seu negócio, pois se ela tiver muitas encomendas para o meio da semana, fica difícil conciliar com a faculdade.

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O recém formado em educação física Gustavo Galvão, 23 anos, também faz parte deste cenário de jovens ingressos no mercado informal. Ele contou que já se formou há um ano e que durante todo esse tempo não conseguiu se estabilizar na área. “Trabalhar como personal trainer estava muito difícil, as academias contratam mas com toda essa crise e com a diminuição de alunos o quadro de profissionais também sofre”.

 

Uma das alternativas que Gustavo encontrou, foi a de trabalhar como uber na cidade, o aplicativo que virou moda foi a chance e a oportunidade que ele teve para conseguir uma renda financeira sem ter que depender de terceiros. “Neste tempo que fiquei desempregado e procurando emprego nas academias de Curitiba, me dei conta que poderia trabalhar como uber, me informei mais sobre o aplicativo fiz minha inscrição e desde então continuo neste ramo”.

 

Estes dois relatos trazidos na reportagem, representam apenas uma pequena parte de todos os outros jovens que atuam em trabalhos informais e que neles viram uma chance de fugir da crise e escapar do desemprego. Quer saber mais sobre informalidade? Clique aqui.

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