Por que tanto preconceito no mercado de trabalho?
Como a homofobia velada pode influenciar negativamente na carreira profissional.
Atualmente existem em média 13,7 milhões de pessoas desempregadas no país, um aumento de 1,4 milhões de desempregados comparado ao último trimestre de 2017, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para conseguir um emprego não é uma tarefa fácil, contudo é muito mais difícil conseguir um emprego se você não se encaixa nos critérios de empregabilidade que muitas empresas adotam.
Esses critérios podem não ser explícitos em muitos casos, entretanto é muito mais comum no dia a dia. Paulo D*, 48 anos, analista de processos na empresa do segmento de energia, se descobriu homossexual aos oito anos de idade e relata que “o excesso de machismo da sociedade obriga às pessoas a se esconderem o tempo todo, se não, você é taxado de afeminado, bichinha e por outros nomes pejorativos”.
​
Trabalhando no setor de energia há 12 anos, Paulo comenta que a
empresa é extremamente machista, contudo, o analista afirma “a vida de homossexual tem suas discriminações, como qualquer homossexual. Já no mercado de trabalho, eu decidi que ia ser como eu sou, assumindo minha sexualidade. E se sofro discriminação normalmente não fico quieto”.
Mesmo atuando em uma área que tem dois homens e 12 mulheres, Paulo ainda sofre preconceito e na maioria dos casos são às mulheres que o defendem. “Existem grupos de diversidade, que atendem pessoas que sofrem preconceito, sendo verificado se ocorreu assédio moral e sexual. Mas eu posso afirmar que já sofri discriminação no mercado de trabalho”.
O analista finaliza relatando “sempre fiz com que as pessoas vissem que sou homossexual, mas dentro do trabalho sou um assexuado e tenho que ser respeitado pelo trabalho que desempenho. A homofobia sempre existiu no trabalho, mas existem certas piadas que ofendem, da mesma maneira que contar uma piada de negro para ele.”
​
As empresas brasileiras ainda estão relutantes em promover a inclusão à população LGBTQ+(Lesbicas, Gays, Bi,Trans,Queer/Questionando, Intersexo,Assexuais/Arromântiques/Agênero, Pan/Poli, e mais...).Essa realidade é um pouco diferente em empresas de grande porte, mas, mesmo assim, essas pessoas não chegam aos cargos de chefia.
Para Luiz*, 27 anos, promotor de feiras e eventos promocionais e corporativos, o preconceito ocorre por meio dos segmentos dos eventos no ambiente atual de trabalho. “Quando eu faço uma feira para a área automotiva, geralmente existe um preconceito maior, já que é um mercado masculino. Já no ambiente de instituições e faculdades, as pessoas tem uma mente mais aberta, pois é um segmento que as pessoas já conhecem e que tem bastante homossexual.”
O promotor ainda conta que a discriminação acontece em determinadas áreas e pessoas, “ eu atuo nesse mercado há mais de 10 anos. Quando trabalhei em uma revista fui bastante discriminado, até por parte de chefes, principalmente por ser um setor que envolve a comunicação visual que também é um mercado bastante masculino”.
Luiz ainda comenta que no início da carreira não demonstrava que era homossexual, porém atualmente ele afirma ser diferente, “hoje eu já tenho mais confiança e experiência. Acredito que a homossexualidade hoje esteja mudando, em virtude dos meios de comunicação e mídia, fazendo com que as pessoas não estejam mais se escondendo”.
​
Em estudo feito pela Consultoria Santo Caos, 43% dos entrevistados afirmam ter sofrido discriminação por sua orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho. Segundo a empresa de recrutamento Elancers, 38% das empresas brasileiras não contratariam pessoas LGBT para cargos de chefia e 7% não contratariam em hipótese alguma.
​
​
​
​
​
​
​
Racismo x Empresas
​
Outro preconceito muito comum no mercado de trabalho, é a discriminação racial. Adegmar da Silva mais conhecido como Candieiro teve uma infância como a maioria dos meninos negros, lutava para sobreviver, aprendem a se desenvolver na cultura popular. Sua rotina é imprevisível, atualmente ocupa o cargo de Assessor de Políticas Públicas da Igualdade Racial na Prefeitura de Curitiba. Sua filosofia de vida é a capoeira, pois ele tem contato mais de 30 anos.
​
Candieiro sofreu inúmeras decepções em sua vida, uma delas foi seu primeiro emprego. “Em todas as portas que eu bati buscando um emprego simples de menino, office boy, auxiliar administrativo, eu não ‘tinha o perfil da empresa’, acabei indo trabalhar no pesado, como servente de pedreiro, ajudante de eletricista, pintor. Era esse o lugar reservado pra mim”.
O assessor luta contra o preconceito todos os dias ele diz que o mercado é racista e excludente, “mesmo quando estamos mais bem preparados que os não-negros, cabe a nós os piores cargos e salários”. A única saída é abrir o próprio negócio.
“Quando percebi que o mercado não tinha condições de me receber, abri meu próprio negócio, e desde então, estou todo dia estudando e me reinventando”.
Conforme dados do Instituto Ethos, não há melhora na participação de negros em posições de liderança em empresas grandes, e apenas 3,6% delas tem política de inserção de afrodescendentes nos funcionários da empresa.
O advogado Martins teve o primeiro contato com o preconceito já em sala de aula, aos seis anos de idade, um colega o perguntou se ele sabia que ele era negro. Para Fernando a organização e a pontualidade são fundamentais, sua rotina é analisar processos partindo de audiências, atendendo clientes e sempre que possível criando alguma coisa porque isso o satisfaz muito. Atualmente ele trabalha como advogado, e seu hobby é ser artista plástico.
​
Atualmente o advogado é membro da Comissão de Igualdade Racial da OAB-PR, e seu maior medo é que a intolerância cresça ao ponto de atingir o poder, mas uma de suas melhores experiências foi alcançar o cargo que muitas pessoas duvidaram que ele pudesse alcançar.
Se comparado com a média habitualmente trabalhada por semana de pessoas por cor e raça, a população negra mesmo sendo tão discriminada, enfrenta os desafios que o mercado de trabalho as impõe. A população parda trabalha em média 38,2 % enquanto o negro trabalha 38,6% a mais em 2017, conforme dados do IBGE.
Conforme a advogada Rebeca Cardoso é previsto na lei promover a igualdade a todos. “Inicialmente em um patamar geral a vedação a discriminação é prevista como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, desta feita tem-se como desígnio nos termos do Artigo 3, inciso IV “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
​
​
Aparência física tem mais importância que currículo
​
Atualmente no Brasil não existe nenhuma lei, que proteja os usuários de tatuagem no mercado do trabalho. No entanto, os casos antigos são analisados para as decisões perante um julgamento.
​
Apesar de não existir nenhuma lei, a advogada Rebeca Cardoso fala que está previsto no artigo 5° inciso XLI ''a lei que punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais’’.
​
Para o tatuador Fernando Mazarini, as pessoas que resolvem ter a tatuagem tem uma forma de personalidade e de identidade, que devido ao preconceito fica escondida: “Diversas pessoas quando vem até o estúdio fazer uma tatuagem, solicitam que faça em um lugar mais escondido e justificam falando que devido o trabalho não pode fazer no local que deseja”.
​
E complementa falando que dependendo do trabalho os empregadores pedem que esconda. “É uma forma que a pessoa se identifica, ela não pode esconder o que ela é”.
​
​
​
Acompanhe no vídeo as mais diversas opiniões sobre preconceito no mercado de trabalho:
​
​
​
​
​
​
​
​
​
Maioria na população e minoria no mercado de trabalho
​
A diferença salarial por gênero também é considerado um preconceito no mercado de trabalho. De acordo com dados do IBGE de 30 horas semanais de tempo parcial de ocupação, os homens gastam em torno de 14% enquanto as mulheres utilizam 28%, ou seja, 73% a mais de horas dedicadas comparada à proporção de tempo gasta por homens.
​
Contudo essa diferença no tempo parcial de horas de ocupação não muda a diferença salarial no âmbito do trabalho. Irene Campos, 45 anos, vendedora de móveis relata que trabalhou por 10 anos em uma determinada empresa em que seu salário mudou apenas 15% a mais com o passar os anos.
​
Irene conta que ao trabalhar na empresa o machismo era bem evidente e que “ a empresa era comandada apenas por homens, nenhuma mulher podia chegar ao posto de chefe, mesmo que eu fosse uma das mais experientes de tempo de trabalho, eles (chefes) preferiam contratar um novato para ser meu superior”.
Soma-se que em média, de acordo com dados do IBGE, que os cargos superiores e gerenciais são ocupados 60% por homens. A vendedora de móveis relata que saiu da empresa mais ou menos um ano, “eu decidi sair pois eu trabalhava a anos com o mesmo salário é eles colocaram um estagiário para me auxiliar no meu trabalho, contudo o estagiário ganhava a mesma quantia salarial que eu, mesmo trabalhando quase quatro horas a menos”.
Irene finaliza comentando que ao falar com a empresa, eles afirmaram que não tinha diferenciavam empregados por gênero, porém não explicaram o motivo de ambos ganharem a mesma quantia salarial.
Além da diferença salarial, o assédio sexual também é outro problema que mulheres enfrentam no mercado de trabalho. Juliana, 30 anos, relata como foi trabalhar em um posto de gasolina aos 23 anos no local que sofria assédio por parte de clientes e funcionários todos os dias.
“O uniforme obrigatório que o dono do posto obrigava todas as funcionárias a usar, era composto por uma camiseta pequena e uma calça tipo legging, colada no corpo, o que deixava todas as meninas desconfortáveis no trabalho”. Juliana ainda conta que nas reuniões da empresa, as funcionárias pediram várias vezes para que o uniforme delas fosse igual ao dos homens, porém o chefe alegava que ao serem contratadas as meninas aceitaram usar a roupa.
Além de todo o assédio sexual que sofriam, as funcionárias tinham funções limitadas, pois muitos clientes não acreditavam na capacidade das trabalhadoras.
​
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) elenca em seu art. 461 que “sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, no mesmo estabelecimento empresarial, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade”.
Expõe ainda no seu parágrafo sexto do mesmo art. que “no caso de comprovada discriminação por motivo de sexo ou etnia, o juízo determinará, além do pagamento das diferenças salariais devidas, multa, em favor do empregado discriminado, no valor de 50% (cinquenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social” previsão incluída pela Lei nº 13.467, de 2017.
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
Denúncias
Caso você tenha passado por algumas dessas situações ou seu colega de trabalho denuncie através do link :
https://peticionamento.prt9.mpt.mp.br/denuncia
​
​
Denúncias sobre preconceito no Ministério Público do Paraná
​
Para a advogada Rebeca Cardoso é garantido por lei que todos tenham direito a trabalho de maneira igual, “é proibido qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador”, sendo previsto no artigo 5, que trata especificamente sobre os dos direitos e garantias fundamentais, em seu inciso XLI que “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”.
Segundo a Promotora do Ministério Público de Curitiba, Cristiane Lopes é muito difícil que as pessoas façam essas denúncias, por vários motivos:
​
* Para preservar a identidade de alguns personagens foram adotados nomes fictícios para proteger a todos.
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​


